Nessa última semana de Fev/15, fizemos o Entrevistão Vishows com Thiago Pethit, cantor e compositor paulistano, um dos músicos que tem injetado renovação na veia roqueira brasileira. Pethit lançou no segundo semestre de 2014 seu terceiro álbum, Rock and Roll Sugar Darling, com uma sonoridade mais roqueira como tem mostrado nos shows de sua nova tour.

Após o lançamento do novo disco no Sesc Pinheiros (dia 15/Jan), Pethit já se apresentou com seu novo show, um dos melhores em atividade no país, em Belo Horizonte, Recife, São Carlos e novamente em São Paulo, no Parque Villa-Lobos.

Falamos sobre tudo um pouco com Thiago Pethit num espaço bem paulistano, o Centro Cultural São Paulo, na região do Paraíso. Confiram como foi a entrevista:

Nenhum artista gosta de rótulos. Como você sente os que são usados pra definir seu trabalho… como Indie, Nova MPB etc.

O rótulo é uma espécie de caixinha em que o mercado coloca os artistas, sinto que é ainda uma consequência de uma era onde a indústria fonográfica precisava transformar em produto cada artista. Vender música durante muito tempo foi um grande negócio, e a indústria organizou tudo em categorias: a prateleira do Rock, do Samba, do Reggae etc.

Para mim que passei por rótulos como Indie ou Nova MPB, é bem complicado por que se você colocasse um CD meu na MPB, provavelmente um fã de Chico Buarque iria torcer o nariz, e o Indie é algo tão difuso que pode ser qualquer coisa, inclusive mainstream, acaba sendo injusto e limitado.

Certas bandas como os Arctic Monkeys que são chamados de Indie por aqui, são rock e atualmente mainstream pra caramba, tornando essa história de rótulos meio sem sentido.

Por outro lado, acho que agora após 3 álbuns bem característicos, existe uma fácil identificação com uma sonoridade que se tornou minha, mesmo com essa “mudança” para uma pegada Rock, por que na verdade, eu nunca me senti longe do Rock, sempre quis ter a liberdade de me expressar e mesmo no Berlin/Texas (2010) e no Estrela Decadente (2012), pude me expor e ser sensível numa roupagem mais despojada, meio folk ou até mesmo low-fi,.

Thiago Pethit
Thiago Pethit

A coisa no Brasil estava um pouco séria demais, com as cantoras divas, aquela coisa séria reverente da Céu e de tantos outros, que acho que a postura de um homem poder mostrar uma canção sensível, sofrer e até chorar num momento dor de cotovelo, uma coisa meio viado mesmo, mas que se você for ver, é rock pra caramba.

Vendo assim o que muitos chamam de fase roqueira, pra mim é a coisa mais natural do mundo, claro que a sonoridade, os ritmos e as guitarras dão a cara desse trabalho atual, mas a atitude e postura que busco sempre teve essa ideologia, o estilo de vida do rock que se joga, se arrisca e vai ver no que vai dar.

Acho que para o artista em si o mais importante é usar um pouco ao seu favor todos esses rótulos, misturar se possível vários deles, e subverter todos eles ao seu favor.

Você teve experiências fora do Brasil que fazem parte da sua formação. Alguma banda ou artista te influenciou na sua passagem pela França e Argentina?

Essas experiências de morar em Paris e em Buenos Aires mexeram muito comigo, mesmo numa fase em que ainda estava criando essa persona musical, já que o teatro era a minha maior preocupação.

Mas como influência musical, acho que a França foi mais forte, já cantei em francês, e sinto identificação com aquela coisa vaudeville, Brecht, Kurt Weill, o cabaré e a sonoridade e charme do Serge Gainsbourg, tudo isso ressoou muito forte em mim, e acaba sendo uma influência.

Da Argentina acho que menos, apesar de gostar de muitas coisas. Outro dia fiquei bem feliz de ver o Fito Paez me seguindo no Instagram, nem sei se é o próprio ou seu staff, mas mesmo assim acabei vendo que curto bastante e me identifico com ele.

Você pensa numa carreira que inclua o mercado da América Latina, que tem um público roqueiro cativo, e com muita bandas gravando em espanhol e inglês, de forma similar ao que você fez nesse último trabalho com vários sons mesclando o português e o inglês?

Eu penso que sim e acho que é um mercado que tem todo potencial para um cara como eu, mas não acredito que seja necessário gravar um álbum em espanhol para isso.

A língua pode ser até uma barreira, mas é muito relativo, já toquei por três vezes em Buenos Aires e a cada apresentação deu pra ver um público maior e um interesse crescente. Pelas minhas conexões de vida com a cidade, acho que é uma super porta de entrada.

Sem muito planejamento é algo que de certa forma já está rolando e que pode ser melhor trabalhado no futuro.

Agora não é o meu foco já que tem tanto lugar no Brasil que ainda preciso abrir as portas, tem muito público, muitas cidades médias com público jovem e universitário, acho importante chegar antes nessa audiência.

Então acaba não sobrando muito tempo para pensar nesse mercado do Rock Latino que é enorme, mas desejo também me comunicar com todos esses países.

No show de estreia da turnê Rock and Roll Sugar Darling, notei uma produção bem profissional com uma super banda e uma série de efeitos de luz e palco. A ideia é levar essa estrutura completa para os próximos shows?

Sim, a ideia é levar o show completo sempre que possível. Mas acabei montando uma alternativa mais completa com 9 músicos e produção de palco, que pode ser com ou sem os efeitos visuais que você viu no Sesc Pinheiros, e também uma versão mais enxuta, mas tão bem produzida quanto, onde a base fica sendo o quarteto de bateria, baixo, guitarras, teclados e efeitos, que apesar de mais simples, não perde nada da sonoridade e proposta do show.

Muitas vezes vejo o rock no Brasil numa fase de transição ou até mesmo de decadência. Você concorda com isso, como enxerga a cena atual?

Sabe que muitas vezes fico até empolgado pela quantidade de novos artistas e pela alternativa de sons interessantes que estão rolando no Brasil e mesmo no mundo, mas sem dúvida o estilo vive um momento difícil atualmente.

Para ser rock não bastam guitarras e outros elementos do gênero, tem que ter identidade, rebeldia e vontade de se libertar, se arriscar e anarquizar, e nesse sentido infelizmente o estilo encaretou, ficou velho e de direita.

Talvez o melhor exemplo seja o Lobão que é um cara que tem vários sons ótimos, e com quem até já toquei, mas a guinada à direita do cara mostra um distanciamento de tudo que pode se relacionar com o Rock. É uma postura careta e conservadora, que de forma alguma atrai o público que deveria atrair, é uma pena mesmo, parece até que ele pirou mesmo.

Mas muito mais que esse lance político e comportamental, que acaba eclodindo em gente pedindo militares e ditadura, o que se vê é que outros estilos assumiram junto à garotada esse papel transgressor que o rock deveria ter.

Não é coincidência a emergência do Funk, do Hip Hop e do Pop do Norte do país e suas aparelhagens, já que não se pode negar que a galera se diverte muito mais num show de Funk do que na maioria dos shows de rock que rolam por aí.

Acho que é uma hora crítica para o estilo no Brasil, e ao mesmo tempo uma oportunidade de se reinventar na busca da essência do que o Rock pode e deve ser.     

Thiago Pethit no CCSP
Thiago Pethit no CCSP

Entrar de cabeça no estilo foi uma aposta na contra tendência?

Eu até entendo essa impressão, mas acho que não tem essa história de contra tendência. O que percebo é o mercado no Brasil bem confuso, mas com muito público para meu estilo de som, claro que o Rock já teve muito mais força e relevância por aqui, só que minha identidade com o gênero foi bem orgânica e já existia nos trabalhos anteriores.

Se você pegar disco após disco, desde meu primeiro EP, vai notar que essa sonoridade toda se amarra muito bem, tudo acaba ornando quando colocado junto ou mesmo em perspectiva.

Não tem como negar que o álbum abusa em referências e características do Rock na sua essência dos anos 50 e 60, mas eu acredito que essa reinvenção do Rock Brasil já está acontecendo e me sinto parte dessa construção.

Podemos ver no próximo álbum uma outra faceta de Thiago Pethit ?

Realmente ainda não tive tempo de pensar nisso, mas acho que meu estilo se definiu nesses primeiros três trabalhos, e mais do que diferente minha intenção é sempre fazer um álbum bom, instigante e que o publico possa curtir, se divertir e se identificar.

Acho que minha identidade vai evoluir e buscar sempre desafios, mas a pegada, estética e a ideologia roqueira devem estar presentes nos próximos discos.

Como foi a gravação do álbum e a relação com os dois produtores, além da experiência de gravar em Los Angeles?

Na realidade quando fomos para Los Angeles o principal objetivo era gravar com o ator Joe Dellesandro, e o álbum já estava gravado, faltando finalizar pouquíssimas coisas, mas foi legal aproveitar o clima da Califórnia, e além da participação do Joe, aproveitei para sentir a cidade que ainda tem todo um clima hippie e solar que acabei colocando nos vídeos e fotos que produzimos por lá. Por isso, muita gente diz que sente esse clima californiano do Rock and Roll Sugar Darling, o que não é coincidência, já que esse estilo e sonoridade foi mesmo buscado por mim e pelos produtores.

Quanto aos produtores, foi uma divisão interessante de trabalho que acabei dividindo com o Kassim e com o Adriano Cintra, pois queria uma coisa de cada um deles.

Com o Adriano buscava aquela coisa mais de garagem e festiva do Thee Butchers Orchestra, alindo às programações e efeitos que fizeram fama no CSS (Cansei de Ser Sexy), já com o Kassim os objetivos eram outros, buscando um equilíbrio e harmonia das canções que ele já havia conseguido quando trabalhamos anteriormente.

Acabei ficando no meio deles, então me envolví bastante na produção, tentando equilibrar as características de cada um deles com o que o álbum pedia como resultado. Foi muito gratificante toda essa experiência com eles.

Se você fosse fazer uma mix tape com sons que está atualmente ouvindo, o que não poderia faltar de nenhuma forma?

Agora você me pegou… deixa pensar um pouco… de cara um som que acho muito legal e ouço direto é a sueca Lykke Li, acho esse disco dela de 2014 sensacional (I Never Learn), além dela um cara que me identifico e até brinco que é a minha versão pernambucana é Johnny Hooker, que é sensacional, tem uma super voz, uma pegada roqueira forte, letras inteligentes e ainda carrega a identidade de Pernambuco, sem medo de ser popular e usar as refrências regionais.

Acho que sem esses sons a mix tape não seria representativa do que ando escutando atualmente.

Fiquem com o vídeo final que encerra a entrevista, numa proposta de pingue pongue de perguntas e respostas do Blog com Thiago Pethit !! Aproveitem !!

 

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