Vi Shows exclusivo - entrevista com Él Mató
Entrevista com Él Mató a un policia motorizado

[red_box]Exclusiva entrevista com Él Mató a un policia motorizado no backstage do Sesc Pompéia na noite de 15/Setembro.[/red_box]

Conversamos antes do show em Sampa com a banda toda, mas em especial com Santiago Motorizado (baixo  voz) e com Manuel “Pantro Puto” (guitarras).

O Él Mató a un policia motorizado é uma das bandas queridinhas do Vi Shows, mas a conexão vem de antes, da época do saudoso podcast Psicobrmusic, que nas andanças pelo Rock Argentino encontrou no single Amigo Piedra uma inspiração para acompanhar de perto o grupo.

A banda tem fiéis seguidores e um verdadeiro culto em relação aos hipnóticos shows, onde mesmo sem nenhuma trucagem cênica e pouca comunicação verbal, envolvem a audiência em clima de celebração roqueira.

VISHOWS : Queria perguntar sobre os shows no Brasil que já são muitos. Quantas vezes o Él Mato esteve se apresentando por aqui?

Santiago: Nossa, foram muitas … creio que quatorze ou quinze vezes, só em São Paulo com essa noite será a quarta vez. Tocamos há alguns anos no Sesc Belenzinho, também na Augusta no Estúdio SP e no Inferno.

Já em Porto Alegre foram diversas vezes, lembro do Gig Rock, do Mapa de Todos, de um show no Opinião com a gravadora Senhor F, mas tiveram outros.

Pantro Puto: Também nos apresentamos em Brasília no Porão do Rock, Goiania no Festival Goiania Noise, Cuiabá no Calango Fest e Rio de Janeiro no Indie Fest com os Super Furry Animals.

Santiago: Acho que também teve outro no Rio mas tocamos até em Belém no Festival Se Rasgum e agora vamos para Belo Horizonte tocar no Festival Transborda.  

Aqui sempre somos bem recebidos e cada vez tem mais gente que conhece a banda, e para hoje estamos empolgados, todos nos dizem que tocar no Sesc Pompéia é emblemático, onde todo rock da cidade e do Brasil já passou.

VISHOWS : Fale sobre a evolução da banda, como foi o surgimento e como estão nessa fase atual.

Santiago: Em 2002 começamos a nos juntar, éramos um grupo de amigos em La Plata que sempre se encontrava para tocar, e armávamos projetos que depois de um tempo não seguiam, até iniciarmos outro, sempre numa necessidade de criar e estar em movimento.

Até que num momento eu estava sem banda e primeiramente com Manu “Pantro Puto”, decidimos dar forma a um novo grupo, já que começaram a surgir as primeiras canções.

Adicionamos Willy “Doctora Muerte” como baterista e a princípio tocavam Diego e Gato que depois saíram, foi quando chamamos Guti (Gustavo “Niño Elefante” guitarra), e com essa formação nos solidificamos fazendo as primeiras gravações e tours.

E já em 2008 depois de gravar El dia de los mortos, chamamos Chatrán Chatrán para os teclados, deixando a banda com a formação atual.

Estamos agora trabalhando o último EP – Violencia, que é do fim de 2015 e que me deixou bem contente com a repercussão e reconhecimento.

VISHOWS : E agora estão já trabalhando em novo disco de inéditas ? Quando imaginam lançar ?

Santiago: Estamos atualmente em nosso estúdio, fazendo o processo de pré produção e ainda compondo e ajustando a base das canções, para que em Janeiro de 2017 possamos ir aos Estados Unidos gravar no Sonic Ranch no sul do Texas, que tem um clima bem propício para nossa sonoridade.

VISHOWS : Como é para vocês o processo de criação ? A música vem pronta, é baixada numa inspiração ? Ou é um trabalho duro de cortar e colar dentro do estúdio.

Santiago: São as duas coisas… no início quando gravamos os primeiros discos era tudo mais caseiro e podíamos experimentar mais e enquanto gravávamos também estávamos compondo e acertando as músicas.

Mas no momento atual gravamos primeiro as bases, e começamos a colocar novas coisas nessa master, algumas também tiramos, similar ao que fazíamos no início, mas agora com as maquetes das canções. E definimos tudo nesse trabalho meio de colagem, armando bem a base até termos tudo bem definido, para daí sim ir ao estúdio e gravar.

Mas sem dúvida é uma colagem com base em pequenas inspirações, são tantos momentos importantes onde algo aparece e isso resulta nas composições.

E dessa forma compomos cada parte de uma canção… depois sim, rola uma espécie de trabalho de laboratório, vendo o que vai e o que não vai ser, em que volume, em que ordem no disco, testando tudo até estar realmente como queremos.

VISHOWS : Nesse momento na América Latina estamos vivendo uma nova onda conservadora na política. Vocês acham que as bandas e o rock em certa medida ficou menos contestatório ?

Santiago: O que acontece é que justo nesse momento atual vemos essas mudanças fortes na política de toda região, e todos se surpreendem, tanto as pessoas quanto as bandas demoram em absorver essa mudança, entender como o novo panorama nos afeta em termos de políticas econômicas e sociais.

Eu me lembro dos anos 90, em que a Argentina era bem conservadora mas havia uma efervescência mais contestatária, e com os governos que vieram depois, que sem dúvida foram melhores para o povo, com conquistas sociais importantes, garantindo um melhor nível social, o exercício de criticar o sistema foi menor, pois conseguíamos ver a perspectiva das coisas… até que agora tudo parece mudar com ameaças em toda região.

Agora na Argentina e também por aqui, ressurge uma direita mais extrema, e mesmo sendo bem recente o povo por lá já está sentindo os efeitos, com políticas de perda de direitos, ajustes que todos já percebem as consequências.

Talvez mesmo os artistas tenham deixado de exercitar seu lado contestatório, e por isso acredito que agora demore mais tempo em reagir a essa mudança política que vivemos.

Pantro Puto: Eu acredito que nesse contexto atual a arte vai seguramente ter seu papel e se destacar com maior força, com idéias mais profundas, já que sempre que temos um estado social assim mais conservador, a arte se rebela contra isso e coisas geniais aparecem.

Paradoxalmente… para a arte, parece ser um campo fértil, como foram nas décadas anteriores, eu prevejo grande efervescencia.

VISHOWS : Como vocês percebem a presença do grupo aqui no Brasil ? Acham que o idioma é uma barreira que dificulta em que medida ?

Santiago: Historicamente essa barreira existe e torna mais difícil a comunicação, mas em ambos os lados artistas brasileiros conseguiram em português ótima repercussão na Argentina e o mesmo ocorreu no sentido inverso, então acredito que é uma barreira possível de ser trabalhada.

Ainda mais atualmente com as mídias sociais e maior interação entre nossos países. Mas em nossos shows sempre nos surpreendemos com a reação do público que mesmo em nossas primeiras apresentações costumava cantar junto as canções, mesmo que em “portunhol”, o que as vezes é até engraçado mas super recompensador como artista.

Também acho que no nosso caso a estética das canções acaba ajudando, pois as letras são curtas e na maioria das vezes bem simples e direta, o que faz com que em diversos países consigamos ser bem compreendidos.

VISHOWS : Já pensaram em alguma versão em português de uma canção do Él Mató ?

Santiago: Na realidade eu acho que é desnecessário ter essas versões, mas tivemos uma experiência com o Superguidis que fez uma versão muito boa de ‘Navidad en Los Santos’ pela gravadora Senhor F numa compilação muito legal.

Na gravação ao vivo eu canto uma parte da canção em espanhol e Andrio do Superguidis em português. Essa foi nossa única experiência de nos escutar em português, mesmo que indiretamente e que no final foi muito bom como um todo.

VISHOWS : O que vocês da banda andam escutando atualmente ? O que está no MP3 player de cada um?

Santiago: Eu escuto de tudo, mas estou ouvindo bastante a cantora espanhola Jeanette, que tem um trabalho de décadas e que gosto muito, muito melódica desde os anos 60.

Pantro Puto: Não paro de ouvir os Mild High Club que tem um dos melhoress discos que ouví no último ano.

Niño Elefante :Uma banda de Neuquem que são os Atras hay Truenos, que acabaram de lançar (Ago/16), um ótimo álbum.

Chatrán Chatrán : Estou ouvindo muito rock argentino dos 80´s mas também estou na onda dos Mild High Club que sensacional.

Willy “Doctora Muerte”: Sem novidades, ando ouvindo o primeiro dos Ratones Paranóicos (1986), que é um clássico e até parece o Marc Demarco mesmo sendo dos anos oitenta.

VISHOWS : Streaming ou Vinil ? Alguma preferência ?

Santiago: Escuto de toda forma, mas adoro vinil, infelizmente não existem mais fábricas na Argentina, então o EP de 2015 “Violencia” acabou tendo uma versão em vinil, mas foi feita na Espanha onde conseguimos lançar  nesse formato.

Mas assim em viagem os MP3s e Streaming estão na ordem do dia e acaba sendo a forma que consumimos mais música nesse momento.

VISHOWS : Como a música entrou na vida de vocês ?

Santiago: Desde pequeno tenho essa conexão, me recordo muito do meu pai tocando violão em especial tangos e boleros, e apesar de não lembrar pois era muito pequeno, meus irmãos sempre contam que sempre que o Pavarotti aparecia eu adorava, imitava ele cantando e que eu ficava bem atento a cada detalhe.

“Risos generalizados de toda banda… que entre outras coisas disseram imaginar Santi cantando ópera, ou mesmo um lado B erudito do Él Mató”.

Pantro Puto: Toda onda do rock argentino dos anos 80 foi o que me influênciou, com bandas como Virus, Los Redondos e até mesmo o Soda Stereo que foi um fenômeno.

Nessa época após a Guerra das Malvinas, a Argentina era governada por uma junta militar que numa medida extrema após a perda da guerra, proibiram canções em inglês nas rádios, o que de forma paradoxal colocou em destaque todo uma nova geração de músicos, ajudando a impulsionar o rock local.

VISHOWS : Vocês vão tocar no Bue Festival em um mês em Buenos Aires. Será um evento grande, qual a expectativa de vocês para o show?

Sim tocamos lá em 14 de outubro. Foi positiva a volta do evento que era muito tradicional, o último foi em 2006, acho que tínhamos somente dois discos… é emblemático pois trouxe grupos como Massive Attack e ajudou muito na consolidação da Argentina como destino para grandes shows, mas depois houve uma concentração de produtores em alguns poucos festivais, o Bue Festival se retirou, deixando muito poder para certos eventos que monopolizaram a cena local de festivais de maior porte.

Por isso é boa para o público e para os artistas a volta do BUE Festival, mas o mais importante é que dessa vez estamos escalados e numa noite em que toca também Iggy Pop o que vai ser muito bom e nos deixa a todos bem motivados para participar.

[blue_box]Sobre o show do Sesc Pompéia o Blog afirma que foi um dos melhores espetáculos de rock do ano na cidade… hipnótico, inspirador e mágico, o tempo passou mais devagar durante as quase duas horas da performance, onde pudemos ver de perto o porque o Él Mató é a maior arma atual do Rock Latino. [/blue_box]

Santiago é um front man atípico, tímido mas forte e cheio de carisma, canta com o coração e mantém o ritmo em perfeita harmonia de baixo e bateria com o sempre inspirado Doctor Muerte.

Os teclados de Chatrán Chatrán são climáticos e aparecem sempre nas horas mais certas, assim como seus precisos vocalizes.

Mas a dupla de guitarras do grupo lembram os melhores momentos de bandas míticas como o “Television”, que encontram em Ñino Elefante e Pantro Puto a combinação perfeita de energia, improviso e art rock, entre palhetadas precisas e cheias de efeitos, até inspirados solos e viagens astrais que elevaram o som do Él Mató até a estratosfera na histórica presença da banda na pompéia paulistana!!

Longa vida ao Él Mató !! O Rock Latino está mais vivo do que nunca !! Que esse poder lírico e sonoro dos caras sirvam de inspiração para novas bandas em todo mundo !!

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