[yellow_box]Assim que o blog se deparou com o ótimo disco Loucura Total/Locura Total, nascido da parceira entre Paulinho Moska e Fito Paez, surgiu a idéia da entrevista, e após contatos através das mídias sociais, apresentamos a ótima conversa com o sempre talentoso e simpático Moska! [/yellow_box]

Conte como a música chegou em você e como foi sua formação musical?

Moska no Rock in Rio ´91 com os Inimigos do Rei
Moska no Rock in Rio ´91 com os Inimigos do Rei

Sou caçula de uma família de 4 irmãos que juntos com meus pais, ouviam cada um um estilo diferente…rock, mpb, clássicos, música instrumental, jazz, bossa nova.

Já nasci “deformado”, no sentido que música pra mim significa diversidade e integração…linguagem e comunicação. Aprendi violão com os amigos e estudei teatro, participei de alguns festivais intercolegiais e acabei entrando pra Garganta Profunda (coral de vozes)…e ali conheci os outros integrantes do Inimigos do Rei, banda que fechou os anos 80 com hits como Uma Barata Chamada Kafka e Adelaide.

Depois saí da banda e comecei minha carreira solo, primeiro com música, mas depois ela se expandiu para a fotografia, o cinema, a tv, e de volta à atuação.

Hoje a música pra mim está dentro de um grupo dessas outras práticas que me interessam…e se retroalimentam.

Você é considerado um artista eclético que surgiu no rock, mas anda bem na mpb e flerta com vários estilos. Como você gosta de definir sua sonoridade?

Não gosto de definir nada…quero conquistar a liberdade de poder gravar com uma orquestra e no próximo disco aparecer com uma banda de rock…o que importa mesmo é a composição, a maneira como você se comunica com o público. Gosto de pensar que sou um artista pop…porque o pop abarca tudo isso de modo relaxado.

O disco Loucura Total, é um marco na relação musical por unir Brasil e Argentina em álbum colaborativo. Como está sendo sua divulgação no Brasil e nos países de língua espanhola? Como surgiu a parceria?

Estamos (eu e Fito Paez) primeiro promovendo o disco nas rádios, tvs, mídia digital…com a mesma tranquilidade

Fito Paez + Paulinho Moska
Fito Paez + Paulinho Moska

que realizamos o disco…sem data nem objetivos pré-estabelecidos. Não queremos sair em uma turnê menor nem maior do que a realidade.

Sabemos da grandeza do projeto (lançado em duas línguas simultaneamente em mais de 20 países) e não queremos tropeçar.

Começamos bem, no México, depois fomos para a Argentina e agora estamos focados no lançamento brasileiro…acho que só daqui à alguns meses poderemos falar melhor sobre os resultados.

É difícil trabalhar um projeto diferente, porque não há caminhos já definidos…ao mesmo tempo estamos diante da possibilidade de construí-lo.

Como foi para cada um se sentir fora da zona de conforto pelos ritmos e idiomas usados? Adorei os sambas com Fito em Português e você nas milongas pop em castelhano.

Fito é um compulsivo dionisíaco e eu um passivo insistente (rs)! Enquanto ele tentava cuidar de tudo eu fui silenciosamente mostrando pra ele muitos aspectos sutis que eram fundamentais pra lapidação do projeto.

A idéia de chamar o Liminha (produtor) foi minha, por exemplo. Liminha (ex- mutantes e produtor de 9 entre 10 êxitos do mercado de discos) foi fundamental nesse equilíbrio.

A tal Zona de conforto se transformou em novas possibilidades de encontrar o outro. Quando se faz um disco com outro artista, é fundamental que os dois cheguem com disposição para apre(e)nder com o outro. Aconteceu assim, aos poucos fomos descobrindo a delícia da aventura de produzir um terceiro artista: Moska+Fito= Locura Total.

O que na sua opinião cria essa enorme barreira para a integração musical do Brasil com a América do Sul?

Em primeiro lugar, a língua. Em segundo lugar, a ignorância (não estou chamando ninguém de burro)…no sentido do verbo “ignorar”. Ignoramos a América Latina como se nós não pertencêssemos à ela.

Aprendi a falar espanhol muito rápido, sem aulas, só conversando, cantando e lendo…é muito parecido. Mas o Brasil não se interessa por isso…aqui tem sempre esse perfume de competição, de corrida, de torcida contra…crescemos escutando as piores coisas sobre os sulamericanos…especialmente na época de Copa do Mundo.

Mas não somente…as tolices vão desde a ideia de que tudo que o Paraguay fabrica é “falso” até o equívoco de que o México só sabe fazer novelas de péssima qualidade.

E isso não é verdade. É só prestar atenção…parar de ignorar.

Você acredita ter aberto as portas para o mercado em língua espanhola te conhecer melhor? Tem alguma turnê ou festival nos planos?

Tá tudo muito no começo, mas sem dúvida é um grande passo na minha estrada, mas muito legítimo ao mesmo tempo, porque eu já venho me dedicando ao mundo latino desde 2002, quando conheci o uruguaio Jorge Drexler.

A turnê do Locura Total vai depender de como o público receber o disco…e isso vai demorar alguns meses pra gente sentir de verdade. Vontade nós temos…e me parece que a Sony está bem engajada no projeto.

Você surgiu com o Inimigos do Rei na última leva de artistas dos 80’s. Como você vê a cena do RockBr hoje em dia? Concorda que os alternativos da época envelheceram melhor que as bandas mais “mainstream”?

Fui adolescente nos anos 80…vivi a esfervescência do rock “in loco”…e tenho um filho de 18 anos que vive a música de sua geração com a mesma intensidade. O mundo é outro, a forma de consumirmos música mudou, a função da música na sociedade também se modificou.

Não consigo comparar uma cena de 35 anos atrás com a realidade atual. Hoje qualquer um que se conecte tem acesso à música de graça…isso não existia.

Antes mesmo da parceria com Fito Paez, você havia gravado uma canção do uruguaio Jorge Drexler, e acredito que você curta bastante essa cena do Poprock Latino. Que artistas ou bandas você recomenda e que devemos prestar mais atenção?

Paulinho Moska
Paulinho Moska

Kevin Johansen, Lisandro Aristimuño, Andrea Echeverri, Franscisca Valenzuela, Natalia Lafurcade, Julieta Venegas, Fernando Cabrera, Alejandro&Maria Laura, Pedro Aznar, Nano Stern…a lista não tem fim.

Como vê a cena atual do pop rock no Brasil? O gênero de certa forma voltou ao underground?

O rock voltou ao underground, mas esse underground está 20 andares acima! Os festivais estão lotados, o público é grande…o rock não tem mais que se esconder em garagens. É um estilo de música/vida como outro qualquer…se misturou com o pop. Ser uma pessoa boa e geradora de amor é a atitude mais roqueira que posso imaginar nos dias de hoje.

Se fosse montar um MixTape com sons que está ouvindo ou curte. O que não poderia faltar?

Estou viciado no novo disco do Cícero, “A Praia”. Já tinha adorado o primeiro, “Canções de Apartamento” e passado um pouco correndo pelo segundo, “Sábado”. Todos funcionam juntos delineando cada vez mais a melancolia celebrativa dele.

Vi uns vídeos da Duda Brack no Youtube e adorei sua personagem/voz.

Alice Caymmi também canta bastante aqui em casa. Ouço de tudo um pouco, mas muito pouco em relação ao todo…muita coisa e cada vez mais…impossível dar conta. Vou no natural, devagar, pescando, me inspirando, deixando que o processo se dê…sem me obrigar a nada.

[red_box]Confiram Fito + Moska ao vivo em Ago/15 na Argentina com Nuestra historia de amor[/red_box]

 

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